terça-feira, 23 de junho de 2015


A maioria dos textos que se encontram neste blogue serão brevemente revistos/actualizados e alojados no site Eu Gosto De Santarém. No Facebook estamos em Eu Gosto De Santarém

domingo, 24 de abril de 2011

Sidónio Pais em Santarém | 11 Março 1918 | Ilustração Portugueza






O Presidente da República Sidónio Pais deslocou-se a Santarém no dia 11 de Março de 1918. Passeou pela cidade. Prestaram-lhe vassalagem e voltou feliz para Lisboa no final do dia. Seria assassinado a 14 de Dezembro desse ano.

domingo, 3 de abril de 2011

Duas Necrópoles, Um Largo, 639 Corpos


Foto de António Matias
6 - 3 - 9! 639! Seiscentos e trinta e nove! Este foi o número de corpos exumados no Largo Cândido dos Reis, durante os trabalhos arqueológicos que decorreram de 12 Julho de 2004 a 30 Setembro de 2005.
Para além de um cemitério cristão, foi igualmente descoberta aquela que é considerada a maior necrópole muçulmana do País.
Os resultados foram revelados o ano passado durante umas jornadas de Arqueologia, que tiveram uma média de oito assistentes por sessão. Foi divulgado na altura pela imprensa local, e foram publicados dois extensos artigos do arqueólogo António Matias numa revista da área. Foi editada pela Câmara de Silves, tem mais de mil páginas e sai uma vez por ano. Na Biblioteca Municipal de Santarém existem ainda dois pequenos livros, editados como separata, com os mesmo textos. Está lá tudo!No Largo, nada!

sábado, 2 de abril de 2011

Jorge Custódio: A Transmissão Da Herança Da Memória Histórica

 
O historiador Jorge Custódio voltou a Santarém para falar de património cultural e como transmitir essa herança às gerações futuras. Um regresso saudado pela assistência, que encheu a sala Virgílio Arruda, na Biblioteca Municipal. Inevitavelmente, falou-se também da candidatura a património mundial

“O problema do património tem sido encarado do ponto de vista da herança que recebemos dos nossos antepassados, e não da sua transmissão para o futuro”, admitiu Jorge Custódio, historiador, durante o encontro dedicado ao ‘Património Cultural: passado, presente e futuro”, realizado no passado dia 7 de Fevereiro. A acção contou também com intervenções de responsáveis por questões culturais ligadas a Santarém, presentes na iniciativa ‘Primeiras Segundas, conversas leves, temas de peso’, promovida mensalmente pelo núcleo do Museu Municipal de Santarém, em conjunto com a Câmara local.
Embora o académico reconheça que o interesse suscitado por questões ligadas ao património seja relativamente recente, existindo sensivelmente desde os finais do século XVIII e início do XIX, “temos de estimular o pensamento sobre o que aconteceu. Afinal, o passado trata da apropriação dos valores morais que a um tempo nos foram transmitidas”, realça.
“A ideia de património tem a ver com o homem sabedor e experiente”, é algo “a acrescentar à cultura que temos”, frisa ainda. Dado que o conceito de património engloba actualmente “o tangível e o intangível, a cultura material e a imaterial”, importa sobretudo encontrar a forma indicada de “proceder à transmissão da herança histórica que nos é legada”. Um problema que se arrasta desde a pré-história, assegura o historiador.
Jorge Custódio diz valorizar “mais a transmissão do que a própria herança” patrimonial, pois esta é algo “que é necessário agarrar, que faz parte da nossa vida”, aponta. Enquanto, no que diz respeito à herança, “recebo o que me interessa, rejeito o que não interessa”, reconhece. Por isso, continua, “não podemos esquecer a importância dessa mesma transmissão para a geração actual, e para todas aquelas que a vão receber no futuro”, argumenta ainda.

Restaurar e conservar
Com a humanidade a atravessar um processo de globalização, sem precedentes na história, “todo o conhecimento é hoje colocado facilmente à nossa disposição”, existindo “inventários informatizados que disponibilizam objectos essenciais para a compreensão do mundo”, diz Jorge Custódio. No entanto, toda essa informação nada contribui para a preservação do património cultural, caso não exista uma sensibilização para o valor civilizacional que a herança histórica acarreta.
A informação chega-nos em tempo real, e os atentados ao património por esse Mundo fora são divulgados quase de imediato. Casos recentes: as pilhagens selectivas no Egipto, tanto no Museu do Cairo, como em outros locais de interesse histórico; ou o saque generalizado ao Museu de Bagdad, no Iraque, em 2003. No Afeganistão, dois anos antes, assistimos impávidos à destruição dos dois gigantescos Budas de Bamiyan, pelos radicais islâmicos, vulgarmente designados como taliban, ou estudantes de teologia.
Apesar destes crimes, as palavras “política de salvaguarda são hoje o léxico do património”, salienta Jorge Custódio, embora afirme ser necessário “ encontrar uma forma de fazer com que a nossa herança permaneça e dure”, face às ameaças que o presente representa.
O problema é complexo, dado o risco de se perder gradualmente a identidade e a memória histórica acumulada ao longo dos séculos. Para contrariar essa tendência, o historiador aponta a necessidade de se “investir na educação e apostar na formação”, como possível forma de contornar esta situação.
Ainda no século XIX, foram dados passos positivos nesse sentido, “quando se deu a descoberta do restauro”, atitude que indicava uma “mudança na sensibilidade da sociedade, face ao património e à necessidade de se preservarem os vestígios que a história nos legou”. Situação que permitiu ao homem “alcançar uma visão histórica do passado que ficou para trás”, garante.
Ainda assim, o historiador lembrou que “o restauro e a conservação do património são acções contínuas no processo humano. É impossível qualquer relíquia sobreviver sem curadores” que guardam e protegem esses objectos de uma sociedade.

Incultura patrimonial
Para Jorge Custódio, outra das ameaças para a preservação dos bens históricos, prende-se com a chamada “incultura patrimonial”. Manifesta-se, sobretudo, quando ”a herança não foi bem recebida” e leva à adulteração de edifícios de valor histórico. Como exemplo, apontou a substituição das janelas do edifício da Sé Patriarcal de Santarém, alvo de uma recente intervenção que alterou definitivamente as características originais do velho monumento.
Contudo, há sinais positivos, como “a ascensão da investigação”, ocorrida nos últimos anos. Contribuiu para que o património seja actualmente visto como “uma ciência, com a sua própria técnica, ética e deontologia”, e um importante instrumento, “económico e social, para que o futuro conheça melhor os seus bens”, indica.
Apesar de ter sempre encarado qualquer projecto de investigação “como se fosse uma alma”, o estudioso, relembra que “só há alguns anos é que o património construído pela sociedade passou a ser considerado como um recurso cultural essencial”.
Há ainda muito por fazer neste campo, sobretudo porque “existe hoje a ideia de que o presente é o que interessa. E onde fica o passado? Onde fica a herança?”, questiona.

Santarém, ainda e sempre
Jorge Custódio, historiador e museólogo, nasceu em Santarém, em 1947, cidade onde dirigiu, entre 1994 e 2002, o projecto municipal de candidatura a património mundial. O plano original, que incluía apenas o centro histórico da cidade, acabaria por ser estrategicamente retirado para reformulação, após conselho da comissão nacional de acompanhamento da UNESCO. A área a classificar passou a contemplar a paisagem cultural envolvente, com a lezíria e o rio Tejo em destaque. O dossier, com a segunda versão da candidatura, foi entregue às entidades nacionais em 2001. Aguarda uma decisão e a consequente resposta desde essa altura.
Inevitavelmente, o tema surge sempre que o historiador se desloca à cidade. Custódio recordou que, acima de tudo, tentou-se “uma regeneração a nível urbano”, mas lamenta que a cidade tenha tido “um projecto muito curto no tempo, que se desenvolveu à volta da candidatura a património mundial”. Advoga, por isso, que o plano estabelecido devia ter prosseguido “para que melhor se preservasse a identidade” do lugar.
Para Graça Morgadinho, antiga vereadora da cultura da Câmara de Santarém, é necessário continuar a “implementar programas com os quais se consigam sensibilizar os jovens para a importância cultural dos monumentos da cidade, e da sua própria identidade”, sugere. Afinal, continua, “só se conhece um fundamento de um espaço, quando se ama esse espaço, sem o vandalizar”. No entender da antiga responsável pela cultura local, “demos à juventude uma sensação de identidade, uma sensação de pertença muito maior”, só que, entretanto, “houve um divórcio muito grande do cidadão em relação à sua cidade”, alegou.

Incúria e abandono
Para a historiadora Maria Emília Vaz Pacheco, ex-presidente da Associação de Estudo e Defesa do Património Histórico-cultural de Santarém (AEDPHCS), é preciso sensibilizar os cidadãos e os políticos para combater “a incúria e o abandono”, em que se encontram muitos centros históricos das cidades portuguesas.
Em Santarém, à semelhança de outros pontos do País, Jorge Custódio lastimou o desinteresse manifestado pelas autoridades, relativamente ao estado de deterioração em que se encontra grande parte do património histórico herdado. A degradação verificou-se, sobretudo, após o 25 de Abril de 1974, pois - para além dos atropelos à liberdade política e de expressão - “o Estado Novo deixou-nos uma cidade ainda apresentável”, defendeu Maria Emília Pacheco.
Graça Morgadinho frisou a dificuldade em preservar o património sem meios monetários. “Como se dignificam os centros históricos das cidades, se os proprietários não têm dinheiro para restaurar e conservar?”, indagou. “Tem de se criar uma sensibilidade que não existe a nível nacional”, visto que “no que toca ao património leva-se muito tempo a decidir as coisas”, acusou ainda.
Como possível fonte de receitas, Emília Vaz Pacheco apontou o turismo e o seu papel na “sociabilização do património”, algo que começou cedo a nível europeu, mas muito tarde em Portugal.
Com o gradual esvaziamento dos centros históricos, registado nos últimos anos, a paisagem cultural das cidades foi completamente alterada. Verificou-se que “as pessoas optaram por viver em não-lugares, por vezes até com melhores condições de vida”, admite Jorge Custódio, referindo-se aos subúrbios urbanos que rodeiam muitas cidades do País.
Revitalizar os núcleos históricos não é transformá-los em museus a céu aberto. É essencial chamar novamente os habitantes, de forma a recuperar a envolvência humana e a animação dos tempos modernos, embora preservando os valores do passado.
Para a reabilitação urbana dos centros históricos, é fundamental, por isso, “mobilizar as cidades para uma acção de valorização dos seus recursos patrimoniais”. É necessário criar condições de habitação para os moradores, pois, “quando se perdem os cidadãos, a cidade cai. A identidade desaparece, volatiliza-se no ar”, já que esta depende das pessoas e da sua memória. Apesar disso, o historiador acautela para a necessidade de fazer uma distinção entre a memória e a identidade, ainda que ambas se encontrem inevitavelmente ligadas.

Pioneiros escalabitanos
Dado que “as questões do património estão sempre associadas a atitudes sociais”, Jorge Custódio aponta o abandono como uma das principais atitudes que têm ocorrido, juntamente com a destruição ou o vandalismo.
No caso particular de Santarém, é longa a tradição de tentar proteger e preservar a herança histórica. Logo no início do século XX, levantaram-se diversas vozes em defesa do património local. Na época, foi mesmo constituída uma comissão de salvaguarda dos monumentos antigos da cidade. Simultaneamente, lutava-se pela implantação de um espaço museológico condigno, local onde seriam reunidos os artefactos e vestígios arqueológicos recolhidos ao longo dos anos, e até aí dispersos por diferentes locais.
Inicialmente, previa-se instalar o futuro museu regional de Santarém na Igreja do antigo convento de Santa Clara. Apesar de aprovado a nível governamental, em plena Assembleia da República, em 1919, o plano traçado acabaria por não avançar. Face à Concordata com a Santa Sé, o executivo do Estado Novo devolveu à igreja católica o controle da Igreja de Santa Clara, que desde essa altura acolhe apenas o culto religioso, embora muito esporadicamente nos últimos anos.
Para além do vandalismo a que Santarém foi sujeita ao longo dos séculos, Emília Vaz Pacheco, recordou ter sido precisamente aqui que nasceu “um pioneiro movimento de cidadania, inédito a nível nacional, empenhado na defesa do património edificado”. Viria mesmo a inspirar a criação de outros grupos dedicados à defesa de questões patrimoniais, que se multiplicaram pelo território nacional. Aliás, as directrizes instituídas pela associação sedeada em Santarém, serviram de base à redacção dos estatutos adoptados, tanto por grupos privados, como por entidades oficiais.
Jorge Custódio esteve ligado à fundação das primeiras associações de defesa do património, a partir do início dos anos 1980, altura em que foi convidado a participar numa campanha nacional de defesa do património cultural. Ao abrigo desta sensibilidade, lembra que “conseguimos com muita dificuldade grandes passos em redor da história do património”, mas “agora destruiu-se tudo isso” queixa-se.

Ao serviço do património
Especialista em arqueologia e património industrial e mineiro, Jorge Custódio esteve envolvido em intervenções arqueológicas, bem como projectos e programas destinados a museus de cariz industrial e mineiro. Entre várias áreas de intervenção, desenvolveu acções em indústrias têxteis, do vidro, do ferro, da cortiça, das conservas ou ainda do gelo natural.
Neste âmbito, coordenou a montagem do Museu do Cimento de Maceira-Liz ou o projecto do Museu do Tempo em Santarém, instalado na Torre das Cabaças. Colaborou igualmente na criação do Museu dos Lanifícios na Covilhã, no Museu da Fábrica de Rolhas de Cortiça do Inglês em Silves. Recentemente, foi o responsável pela exposição 100 Anos de Património, Memória e Identidade, Portugal 1910-2010, que esteve patente Palácio Nacional da Ajuda.
Após a extinção do projecto autárquico escalabitano, Jorge Custódio, doutorado pela Universidade de Évora e quadro superior do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), dirigiu o Convento de Cristo, em Tomar, até 2007, altura em que foi nomeado como primeiro director da Fundação Museu Nacional Ferroviário Armando Ginestal Machado, sedeado no Entroncamento.

Novos patrimónios
Jorge Custódio considera ser estimulante a ideia da musealização de objectos vulgares. Atento aos vestígios do desenvolvimento da humanidade, aponta o património cultural e industrial como testemunha da evolução colectiva dos homens.
Sobre o seu mais recente cargo, explica ter sido encetada, a nível nacional, uma reestruturação que implicou uma completa reformulação do conceito dos núcleos museológicos, espalhados pelo País. “O museu está a remodelar-se e os núcleos serão uma expressão da filosofia que o Museu Ferroviário está a desenvolver”, declara.
Ao abrigo desta mudança e reconversão, o Núcleo do Museológico da CP, na estação ferroviária da Ribeira de Santarém, irá reabrir com uma exposição centrada na história da linha do Leste. Entretanto, duas das composições que integravam o espólio deste núcleo, – a carruagem real e o comboio presidencial – que se encontravam em condições precárias de conservação, foram deslocadas para o Entroncamento, onde permanecem ainda, muito embora já tenham sido devidamente restauradas.
Para Jorge Custódio existe todo um conjunto de novos patrimónios para estudar, organizar e expor ao público. Em nosso redor encontramos facilmente vestígios desses sinais, que constituem os novos patrimónios. Num contexto alargado, o historiador inclui igualmente, minas, fábricas, arqueologia industrial ou unidades de lanifícios, por exemplo. Afinal, considera, “património tangível, é o património do futuro. Há novos objectos a nascer” todos os dias, congratula-se.
Em Portugal, o interesse pelo património e pela arqueologia industrial começou, sobretudo, nos anos 1980, quando alcançou estatuto de interesse cultural para a investigação histórica. Lá fora, terão sido os ingleses, após a II Guerra Mundial, que chamaram a atenção para este novo tipo de património. Passaram a olhar para objectos de uso quotidiano e instalações industriais, sob uma perspectiva de interesse histórico. Objectos, até aí considerados comuns, começaram a ser encarados sob o ponto de vista do seu interesse patrimonial.
Apesar de reconhecer que Portugal “apresenta projectos tardiamente”, o historiador assegura que, por vezes, surgem bons exemplos. A Cimpor, Cimentos de Portugal, é uma prova desta nova atitude face ao património industrial. As suas instalações, em Alhandra, vão ser brevemente classificadas como património, e até já existe um museu, cuja entrada é um antigo forno.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

João Afonso e a assistência hospitalar na Santarém Medieval

Santarém chegou a ser a terceira localidade do País com maior número de habitantes, logo após Lisboa e Porto. Geograficamente localizada no centro do reino, a urbe escalabitana possuía inúmeros recursos agrícolas, uma saudável pujança económica, bem como uma influência política que se estendia à própria corte, instalada em Lisboa.
Numa época em que a pobreza tinha um carácter principalmente itinerante, verificava-se a existência de uma certa mobilidade, que trazia à vila os chamados ‘nómadas sociais’, pobres e deserdados. Procuravam sobretudo abrigo e alimentação, junto das inúmeras obras de assistência, espalhadas pelo espaço intramuros da vila do planalto e os arrabaldes urbanos.
Sabe-se que, entre o final do século XII e meados do século XVII, Santarém chegou a deter, no seu conjunto, perto de 50 casas assistenciais, entre
hospitais, albergarias, leprosarias, confrarias, ou mercearias. Estas últimas, caracterizavam-se por serem uma forma especial de hospício, destinado a auxiliar e permitir estadias mais prolongadas a doentes e entrevados. Praticamente, todos os bairros e paróquias na parte alta da vila medieval possuíam pequenas instituições de apoio, enquanto na parte baixa, nas povoações ribeirinhas de Alfange e Ribeira de Santarém existiram, pelo menos, oito estabelecimentos deste tipo.
Quer estas unidades de assistências pertencessem a entidades religiosas, tivessem sido Instituídos pela nobreza, ou outros grupos sociais, todas tentavam responder a solicitações de ordem higiénica e de saúde pública, acolhendo e tratando os enfermos, mas fornecendo igualmente assistência a residentes ou peregrinos em romaria.

Dedicado aristocrata
João Afonso, um abastado aristocrata escalabitano da segunda metade do século XIV, destacou-se entre a nobreza local pela sua vocação e dom de caridade, dedicando-se à prestação de assistência aos necessitados durante o Antigo Regime.
A acção benemérita de João Afonso de Santarém assumiu contornos de relevante importância ao deixar indicações no seu testamento, redigido em 1426, que vieram a servir de base para a fundação do Hospital de Jesus Cristo. Este viria a tornar-se na mais importante instituição hospitalar da região de Santarém, e mesmo do País. Pelo menos, até à fundação do Hospital termal das Caldas da Rainha e do Hospital Real de Todos-os-Santos, em Lisboa.
Perante uma sociedade eminentemente rural, a criação do Hospital de Jesus Cristo, em Santarém, foi de encontro às tradições de assistência medievais, mas distinguiu-se pelo facto de ter sido fundado bem no centro da urbe. Contrariava, desta forma, a lógica da instalação dos hospitais das ordens militares e religiosas, geralmente implantados na periferia das povoações, onde recebiam os peregrinos ou os pobres.
O carácter pioneiro deste Hospital, salientava-se ainda por possuir um quadro de funcionários, desde administradores a auxiliares de serviços gerais, até à inclusão de um corpo médico próprio, assumindo a função de hospital em permanente actividade. Apesar da designação de Hospital, estas unidades tinham, na sua grande maioria, uma dimensão muito reduzida, sobretudo quando comparadas com as instituições de saúde que conhecemos actualmente.
Igualmente inédito era o facto de apoiar os pobres vitaliciamente, quando até à data apenas eram facultadas ajudas pontuais. Aos doentes internados era fornecida alimentação, reforçada em épocas festivas, bem como roupa e cama, cujo enxoval era periodicamente lavado e substituído. O novo hospital dispunha de apenas 13 camas para internamentos mais prolongados,
permitindo receber homens e mulheres, instalados em diferentes alas, consoante o sexo dos pacientes. Em comum tinham apenas a doença e a pobreza.
O surgimento desta instituição hospitalar, instalada num Paço doado pelo próprio João Afonso, veio contribuir para uma melhor organização e eficiência do ambiente assistencial, até aí bastante modesto e financeiramente limitado, decadente e desorganizado. Surgia assim uma nova realidade que, num futuro muito próximo, seria o modelo copiado pelas restantes unidades congéneres.

Ordem para agrupar
Em 1484, após a proclamação da bula papal de Inocêncio VIII, foram implantadas por toda a Europa medidas de centralização, com vista a integrar todas instituições de assistência numa mesma unidade hospitalar, numa tentativa de melhor satisfazer as necessidades sentidas na época.
Em Portugal, o processo de centralização dos hospitais medievais foi encetado durante o reinado de D. João II, adoptando-se o modelo seguido pelas instituições europeias semelhantes.
No âmbito desta reforma, o Hospital de Jesus Cristo de Santarém foi considerado o principal organismo assistencial da vila, ao qual todos os outros estabelecimentos existentes se deveriam juntar. Esta integração demonstra o estatuto avançado que a organização possuía, onde, para além do património e das posses da instituição, ocupava uma posição central no planalto da cidade alta. Tentava-se, sobretudo, alcançar um maior profissionalismo e criar um hospital central mais funcional, que reunisse as competências que estavam dispersas por pequenas instituições na vila e nos arredores.
Assim, em 1485, os 14 hospitais mais importantes da vila medieval acabam por ser anexos pelo Hospital de Jesus Cristo, uma situação que viria a estar na origem da criação da futura Santa Casa da Misericórdia de Santarém, fundada por volta de 1500.
Carlos Quintino

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Exposições promovidas pelo Museu Municipal

De Scallabis a Santarém | 2002 | Igreja da Graça, Santarém
A História de Santarém começou a ser escrita na zona do actual Jardim das Portas de Sol, lugar onde foram descobertos os primeiros vestígios da ocupação humana do planalto escalabitano. A exposição de “Scallabis a Santarém”, realizada em 2002, na Igreja da Graça, em Santarém, e no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, apresentou pela primeira vez ao público o resultado de alguns estudos que deram a conhecer as origens da cidade, bem como seguir o seu percurso ao longo do tempo.
A exposição mostrou tudo o que se conhece actualmente sobre a história antiga da cidade. Teve por base, quase exclusivamente, os trabalhos arqueológicos desenvolvidos no planalto da Alcáçova, que decorreram desde os anos 1980, e que permitiram recolher um numeroso conjunto de materiais da ocupação do sítio. Ainda que se tenham igualmente registado intervenções noutros locais da cidade, foi sobretudo nesta zona que Santarém nasceu.
Pretendeu-se, acima de tudo, mostrar como se processou a ocupação do solo da actual urbe, que ao longo de três milénios foi sendo construída e reconstruída, derrubada e erguida. Por vezes manteve-se o traçado das ruas, mas os edifícios e os bairros mudaram com o passar dos séculos. Cada cidade esconde na vertical inúmeros edifícios semi-destruídos, extensas faixas de ruínas, que por si só acabam por ser um puzzle de antigas povoações. Com um subsolo rico em termos arqueológicos, à semelhança de outros locais históricos, a Santarém actual é o resultado das várias urbes que a antecederam, e cujo percurso ficou registado nos muitos metros de terra acumulados debaixo da actual cidade.
Datam do século X a.C. os primeiros vestígios dessa ocupação, que até ao século I d.C. ocorre, exclusivamente no local onde hoje se localiza o Jardim das Portas do Sol. A partir daí, o núcleo urbano foi crescendo, ocupando progressivamente áreas cada vez mais extensas, ao ponto, no século XII, incluir já todo o planalto de Marvila e os dois núcleos ribeirinhos junto ao rio Tejo: Ribeira e Alfange.
Promovida pela Câmara Municipal de Santarém e o Museu Nacional de Arqueologia, esta mostra deu a conhecer a transformação do núcleo urbano da cidade e da região envolvente de Santarém, desde o início da Idade do Ferro, século X a. C., até à Idade Moderna, no século XVI.
A exposição foi dividida em cinco núcleos, começando por explicar como se processou a ocupação do Espaço e como cresceu o núcleo urbano; como evoluiu a actividade económica, da agricultura, ao pastoreio e à pesca, passando pelas indústrias transformadoras, como a metalurgia e a tecelagem, das quais chegaram até nós imensos vestígios; ou como se desenvolveu a ligação às rotas do comércio mundial e a própria actividade comercial da cidade. Finalmente os dois últimos núcleos centraram-se na vivências da população local através dos artefactos encontrados, e como o tempo foi alterando esse mesmo quotidiano, desde a dieta alimentar, a forma de confeccionar e consumir os alimentos, as actividades lúdicas, os objectos de adorno, até à arte da guerra. Por último, focou-se a influência da religião e as atitudes perante a morte, as divindades venerados ou os ritos funerários praticados pelos habitantes desta região.

S. Frei Gil de Santarém e a sua época | 1997 | Igreja S. João de Alporão
S. Frei Gil é um dos santos portugueses com maior projecção nacional e internacional. A vida e obra deste ilustre e controverso frade dominicano foram motivo de destaque da exposição “S. Frei Gil de Santarém e a sua época”.
Figura polémica, apelidada de “Fausto Português” e “Homem de Deus e do Diabo”, terá sofrido um violento rebate de consciência, após uma juventude boémia em Paris. O novo rumo fê-lo ingressar no convento da Ordem de S. Domingos, em Santarém. Aqui distingue-se como médico, taumaturgo, teólogo e pregador, nos séculos XII e XIII, tendo sido canonizado pelo papa Bento XIV a 9 de Maio de 1748.
De seu verdadeiro nome Dom Gil Rodrigues de Valadares, também é conhecido como São Frei Gil de Portugal, São Frei Gil de Vouzela, terra do seu nascimento, no final do século XII, bem como São Frei Gil de Santarém, local do seu falecimento, a 14 de Maio de 1265.
Após o convento dominicano de Santarém ter sido destruído e vendido ao desbarato, foi construído no mesmo local uma praça de toiros. Do túmulo de S. Frei Gil resta apenas a tampa com uma estátua jacente, que foi transferida das ruínas do convento para o Museu Arqueológico, no Museu do Carmo, em Lisboa. Alguns dos outros dos despojos arquitectónicos medievais que foram salvos na época, fazem parte do espólio que foi exibido, em 1997, na Igreja de S. João de Alporão.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Uma estátua da Virgem Maria é o único vestígio que resta da Porta de Alpram

A porta de Alporão - ou Alpram – fazia parte dos muros defensivos que rodeavam a antiga vila de Santarém. Era uma das várias entradas que davam acesso à porta da cidadela ou à Alcáçova, o recinto militar por excelência. Na Santarém medieval era sobretudo um espaço central de circulação que permitia a ligação entre os dois recintos amuralhados do planalto de Marvila então existentes.
A porta era ladeada por duas torres. Uma viria, posteriormente, a dar origem à Torre do Relógio, actualmente conhecida como Torre das Cabaças. A outra, a de Alpram, fazia parte da estrutura da Igreja de S. João de Alporão, juntamente com as antigas muralhas, que desciam pela encosta até ao povoado ribeirinho de Alfange.
A partir do século XV, a área sofre uma crescente urbanização e são levadas a cabo as primeiras demolições no local da Porta de Alpram. Uma das torres é convertida em Torre do Relógio da Vila, passando a informar a vila e arredores sobre a mudança das horas, algo que passou a ser medido mecanicamente através de aparelhos e sinos colocados no cimo da estrutura.
Segundo registos da época, a porta de Alpram estaria situada no espaço compreendido entre a Igreja de São João de Alporão e a Torre das Cabaças. Por aqui passavam todos os desfiles e cortejos reais sempre que os monarcas se dirigiam à Capela Real, situada na Igreja de Santa Maria da Alcáçova.Terá sido, precisamente, esta localização que ditou o destino do último vestígio da porta de Alpram, quando, no final do século XVIII, os responsáveis pelo município ordenaram o derrube da torre contígua à Igreja de São João de Alporão, bem como do arco que fazia ligação com a Torre das Cabaças. Em 1785, a rainha D.Maria I visitou a então vila escalabitana e fez questão de assistir a uma missa na Capela Real da Alcáçova, pelo que se optou pela demolição do que restava da porta de Alpram para permitir a passagem do coche real.
No alto do arco que restava da estrutura original da porta encontrava-se uma pequena ermida dedicada a Nossa senhora da Paz, da qual foi retirada uma imagem medieval, possivelmente do século XV. Tratava-se de uma escultura em pedra da Virgem Maria coroada, com menino Jesus ao colo e uma pomba. Encontra-se actualmente em exposição no Núcleo Museológico do Tempo, na Torre das Cabaças. É o derradeiro indício que resta daquela que em tempos foi uma das principais entradas na povoação que viria a dar origem a Santarém. CQ

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O monumento mais visitado no Museu de S. João de Alporão foi construído para guardar apenas um dente

D. Duarte de Meneses, Conde de Viana, foi um cavaleiro escalabitano que alcançou o posto de Alferes-Mor de Álcacer-Seguer, feitoria marroquina conquistada em 1458. Foi nesta praça do norte de África, mais propriamente na serra de Benacofu, que o guerreiro português tombou em combate, em 1464, por altura das cruzadas, quando defendia a retirada do rei D.Afonso V.
A inscrição que se encontra no mausoléu de D. Duarte de Meneses, gravada no século XVIII, acrescenta pormenores à história, ainda que dificilmente se consiga comprovar a sua veracidade. É referido que o militar, dispondo de apenas 500 soldados, enfrentou 500 mil mouros no conflito onde perdeu a vida, embora tenha conseguido salvar a vida do monarca português, que assim pôde regressar são e salvo a Portugal, após mais uma campanha por terras africanas.
O monumento funerário de D. Duarte de Menezes, um cenotáfio encomendado pela sua viúva, D. Isabel de Castro, no final do século XV, destinava-se a acolher um pequeno cofre que guardava apenas um dente, que supostamente pertencera ao falecido militar. Enquanto alguns investigadores alegam que o corpo de D. Duarte nunca foi resgatado do campo de batalha, outros garantem que o mesmo dente foi precisamente a única parte que se conseguiu recuperar do cadáver despedaçado do soldado português.
Já agora, explique-se que um cenotáfio é um monumento funerário simbólico, erguido para homenagear apenas uma pessoa ou mesmo um grupo de indivíduos. Poderá tratar-se de uma tumba vazia, destinada a guardar alguma lembrança relacionada com a pessoa, ou acontecimento, que se pretende evocar.

Esculpido por canteiros da Batalha
Esculpida pelo mestre Gil Eanes Costa, da escola de canteiros do Mosteiro da Batalha, a tumba funerária foi construída com calcário local e tem um peso impossível de calcular. Possui uma envergadura de seis metros e meio de altura, uma largura de quatro metros e trinta e cinco, e uma espessura ou profundidade que não vai além de um metro.
Monumento do gótico final português, este monumento é considerado uma das jóias da arquitectura e escultura tumular nacional. Ostenta uma estátua jacente de um guerreiro armado, envolta por motivos decorativos de ordem vegetalista, animalista e heráldica, directamente inspirados no estilo dos túmulos dos infantes da Capela do fundador do Convento da Batalha, D. João I.

Mudar de casa
O cenotáfio de D. Duarte foi originalmente instalado na capela das Almas, no Panteão dos Condes de Viana, situado no interior do Convento de S. Francisco, em Santarém. Em 1881 foi autorizada a sua transferência para o Museu do Carmo, em Lisboa, o que só não aconteceu perante os protestos das autoridades e da população escalabitana, que se manifestaram contra esta decisão, impedindo a desmontagem do mausoléu e a mudança de local.
Apesar disso, parte do espólio monumental local foi mesmo transferido para Lisboa no final do século XIX. Como justificação foi apontada a ausência de obras de conservação e o perigo de degradação, bem como as demolições e transformações operadas nos edifícios históricos da cidade.
Em 1889 a Igreja de São João de Alporão abriu ao público como museu, após uma das primeiras obras de conservação e restauro realizadas em Portugal. Uma das principais atracções era precisamente o cenotáfio de D. Duarte de Meneses, que fora desmontado sob a supervisão de um mestre-pedreiro do Convento da Batalha, e transferido da sua localização original na capela das Almas. Antes fora aberto na presença das autoridades e arqueólogos locais, que encontraram uma tumba vazia, contendo apenas um pequeno cofre com um dente no seu interior.
Segundo técnicos da Câmara Municipal de Santarém, estudos recentes concluíram que o dente analisado pertencia à dentição de uma criança.
Carlos Quintino

Vale D’Algares: Um oásis no coração do Ribatejo

Vale D’Algares é um projecto turístico inovador a nível nacional. Apostado em vingar em várias frentes, possui uma forte vertente vitivinícola, vocacionada para o enoturismo, um centro equestre, uma quinta onde já se realizam os mais diversos eventos e prevê construir um hotel de charme e um moderno centro multiusos. Grande parte desta iniciativa passa pela Quinta de Vale D’Algares, propriedade que se estende por um frondoso vale onde foi criado um pequeno paraíso natural. Situado em pleno Ribatejo este empreendimento é desconhecido da grande maioria da população local.

Vale d’Algares localiza-se na pacata aldeia ribatejana de Vila Chã de Ourique e faz parte do Concelho do Cartaxo, ficando a uma distância de Lisboa que poderá ser percorrida em escassos 30 minutos.
Este projecto pretende ir de encontro às “exclusivas necessidades de cada cliente”, segundo as directrizes estipuladas pela empresa, que quer ainda oferecer “um serviço de qualidade que prima pela excelência” e que seja “capaz de proporcionar emoções e recordações, num ambiente intimista e de pura cumplicidade com a Natureza”, realça.

Velha adega, nova roupagem
Para além desta vertente ambiental, o projecto de Vale D’Algares contempla igualmente a criação de um centro equestre, bem como o desenvolvimento de um inovador projecto turístico ligado ao enoturismo. Para esse efeito, foi completamente reconstruída e beneficiadas as instalações de uma velha adega situada em pleno centro da pequena aldeia de Vila Chã de Ourique.
Aqui nada foi deixado ao acaso. Percorrendo os diferentes pisos deste edifício é possível ficar a conhecer algumas das ancestrais práticas utilizadas para a produção de vinho, tendo nesse sentido si do preservado algum do antigo património para que os visitantes se apercebam da evolução das técnicas vitivinícolas ao longo dos tempos.
A visita a este edifício conduz os visitantes a três pisos abaixo do solo, onde numa vasta cave repousam largas dezenas de barricas de carvalho, onde o vinho se encontra em fase de maturação até alcançar as condições ideias para ser colocado à venda ao público
Finalmente, este percurso termina numa inovadora sala de provas subterrânea onde os visitantes são contemplados com uma prova de alguns dos vinhos produzidos pela casa.
De dimensões quase épicas, a magnitude deste edifício caracteriza-se por uma arquitectura de contemporânea modernidade e por uma inovadora decoração das instalações, totalmente concebida tendo em vista o desenvolvimento e a procura turística, permitindo desta forma que os visitantes recordem e evoquem tempos passados, alguns muito remotos mesmo.
No entanto, esta moderna adega está longe de ser apenas um edifício de características museológicas. Paralelamente ao restauro efectuado, foram igualmente introduzidas as mais recentes e actuais formas de produção vitivinícola com o objectivo de produzir vinho proveniente dos 31 hectares de vinha existentes no interior da própria Quinta de Vale D’Algares.

Esforço medalhado
Os resultados já começaram a surgir com as duas medalhas de ouro que os vinhos de Vale d’Algares alcançaram no International Wine Chelenge deste ano. Em termos nacionais a qualidade dos vinhos foi igualmente reconhecimento por vários especialistas da Revista Dos Vinhos que atribuíram o prémio Produtor Revelação do Ano transacto.
Após uma inicial parceria, Vale D’Algares criou uma estrutura própria e assumiu por completo a gestão de todas as etapas de produção vinícola, desde a plantação das vinhas, até à distribuição dos seus vinhos, com o objectivo de garantir um controlo efectivo de toda a produção. As variedades seleccionadas incluem tanto castas tradicionais da região como algumas inovações próprias, como é o caso da introdução do alvarinho e viognier.

Paradisíaca Quinta
Na sua totalidade a Quinta de Vale D’Algares estende-se por 100 hectares de terreno, local para onde está prevista a construção de um Pavilhão Multiusos destinado a acolher iniciativas em grande escala, contribuído para trazer à região um acréscimo no afluxo de visitantes, profissionais ou simples turistas em passeio. 
No vasto espaço da Quinta pretende-se, acima de tudo, proporcionar uma variedade de recursos naturais e humanos em harmonia com o meio envolvente. Podem assim observar-se nos pequenos montes, vales e no Paúl existente inúmeros gansos e outras aves selvagens que esvoaçam sob o acolhedor lago com uma pequena ilha no centro. Nas margens colocaram-se luzes que quando ligadas criam uma ambiência nocturna bela e singular.
Em redor, os antigos edifícios aqui existentes foram completamente remodelados e a grande parte dos caminhos foram calcetados. De realçar a existência de um antigo lagar de azeite onde se tentaram preservar os mais ínfimos pormenores dos acabamentos de madeira originais. Restaurou-se ainda a tradicional mó e colocou-se pedra portuguesa, o que contribuiu fortemente para recuperar as características de outrora.
Espaço de referência na Quinta, o beneficiado Salão Nobre que teve como fonte de inspiração a tipologia dos armazéns e da traça local, juntando o conforto e a modernidade a um ambiente rústico. Neste salão procurou-se alcançar uma grande funcionalidade e polivalência, podendo realizar-se aqui eventos como congressos, conferências, colóquios, apresentação de produtos, jantares, acções de formação ou workshops. Para esse efeito, o recinto está totalmente equipado com sistema de imagem e som, podendo ainda ser requerido o serviço de catering.
Este esforço já trouxe resultados à empresa, tendo o espaço da Quinta Vale D’Algares sido distinguido como o Melhor Centro de Eventos na 3.º Edição da Gala dos Eventos 2010, realizada no passado dia 1 de Junho no Sheraton Porto Hotel & Spa. Sob o escrutínio de um júri composto por organizadores, fornecedores, responsáveis por eventos em grandes empresas, meios de comunicação especializados e associações profissionais a Quinta foi avaliada com a nota máxima de qualidade e conceito enquanto espaço para eventos.

Turismo a cavalo
O turismo equestre é outra das apostas do grupo que gere este empreendimento. Vale D'Algares pretende mesmo ser um novo centro do mundo equestre a nível nacional e internacional. Para isso possui um centro equestre que ocupa uma área de cerca de 16 hectares. Completamente equipado, aqui existem condições para a prática das diferentes modalidades ou disciplinas equestres, caso do salto de obstáculos, ensino, dressage, equitação de trabalho, atrelagem ou ainda equitação adaptada.
No local existe ainda uma escola de equitação que se dedica ao ensino da equitação lúdica e equitação desportiva de competição. Para completar o cenário, Vale d’Algares dedica-se igualmente à criação, compra e venda de cavalos puro-sangue lusitano e cavalos de desporto através da sua coudelaria, criada de raiz.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Fragmentos da memória de Santarém em exposição

A história de Santarém tem novos dados à disposição do público. Sob a designação de “Fragmentos da Memória”, podem ser visitadas novas extensões permanentes do Museu Municipal em quatro locais do centro histórico da cidade, que foram alvo de recente recuperação arquitectónica.
As intervenções arqueológicas, desenvolvidas em fase de obra, permitiram trazer à luz do dia novos fragmentos que ajudam a conhecer melhor a história da complexa ocupação humana que o planalto de Santarém sofreu ao longo dos séculos.
Assim, em 2003, foi descoberta uma nova cisterna durante as obras de remodelação do Teatro Sá da Bandeira. Esta estrutura, associada ao medieval Hospital de Jesus Cristo, encontrava-se obstruída com materiais da época moderna. Para além disso, encontram-se ainda expostos diversos artefactos, de Ter. a Dom. entre as 10h00 e as 22h30.
No Centro Social Inter-Paroquial de Santarém foram encontradas, em 1998, um conjunto de estruturas escavadas na rocha, provavelmente dos séculos X e XI, que podem ser visitadas de Seg. a Sex. das 08h30 às 18h00.
Por outro lado, na Residência de Estudantes do Instituto Politécnico de Santarém, um edifício do século XVI, escondia a três metros de profundidade vestígios que remontam aos séculos XIII e XIV. A visitar de Seg. a Sex. entre as 09h00 às 16h00, com intervalo para almoço entre as 12h00 e as 13h30.
Por último, na Casa do Brasil, a intervenção arqueológica de 1997 revelou que este espaço tem sido ocupado desde os séculos X e XI, ainda que tenha sofrido grandes alterações no decorrer do século XVIII. Aberto de Ter. a Dom., das 09h00 às 17h30, com pausa para almoço das 12h30 às 14h00.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Museologia e Património Cultural: Aprender a animar para divulgar

Santarém tem um novo espaço de debate, para discutir temas relacionados com a museologia e o património cultural. Cada encontro terá lugar na primeira segunda-feira de cada mês, tendo sempre como convidado um orador ligado aos assuntos abordados.

“Temos que tornar acessível o espólio dos museus ao maior número possível de pessoas”, esta foi uma das reflexões saídas da palestra “Animar ou educar? Estratégias e aprendizagens não formais”, tema desenvolvido por Sílvia Madeira, da Escola Superior de Educação de Santarém.
Outra das principais conclusões saídas deste encontro, apontou no sentido de ser necessário, acima de tudo, investir na formação de profissionais de museologia, uma situação de carência que se regista de norte a sul do país.
Aos técnicos de museus cabe hoje em dia captar a atenção dos visitantes para o legado histórico, ou não, que têm sob a sua responsabilidade. Nesse sentido, algumas das medidas sugeridas consideram ser urgente a criação de iniciativas de carácter cultural ou lúdico, que possam contribuir para chamar a população a participar neste tipo de actividades.
No entanto, nada disso surtirá efeito sem a elaboração de um eficaz plano de acção, destinado a ser aplicado de forma coerente em todas as iniciativas que se pretendam vir a desenvolver. Será este o tipo de animação que se deseja incrementar futuramente como prática comum, visto que animar, definitivamente, não é sinónimo de brincar.

Problematizar a museologia
Como primeira personalidade convidada, a professora Sílvia Madeira falou no âmbito da iniciativa “Primeiras Segundas, conversas ligeiras para temas de peso”, promovida pelo Núcleo do Museu Municipal e Património Cultural da Câmara Municipal de Santarém (CMS). A conversa inaugural teve lugar no passado dia 3 de Janeiro, no Auditório Virgílio Arruda na Biblioteca Municipal de Santarém. A estreia foi relativamente animadora, com uma sala composta por uma assistência constituída, sobretudo, por profissionais do sector e estudantes de cursos de animação cultural.
Segundo a organização, espera-se que estes encontros contribuam para, “em ambiente informal, problematizar uma série de temas relacionados com a museologia e o património cultural”. Pretende-se, acima de tudo, criar uma dinâmica que consiga captar e envolver a população, fazendo destas reuniões uma plataforma de debate, que sirva para chamar a atenção para toda a problemática relacionada com questões de âmbito cultural e patrimonial.

Chamar o público
Um dos temas em foco nesta primeira sessão foi tentar saber qual a forma mais indicada para motivar e cativar a população, para que esta se sinta tentada a visitar os equipamentos culturais disponíveis nas suas localidades, sejam bibliotecas, museus ou monumentos.
Para Sílvia Madeira é urgente “conseguir motivar o maior número possível de pessoas”, captando o interesse da população, enquanto se procura encontrar a melhor forma de sensibilizar e distinguir os diferentes tipos de público, sejam crianças, adolescentes ou adultos.
A especialista não defende o incentivo como forma de captar público, “caso este seja feito de forma isolada. Pode oferecer-se, por exemplo, um balão desde que esse objecto esteja directamente relacionado com uma acção em que as crianças participem” no interior do próprio museu.
Luís Mata, coordenador do Núcleo de Museu e Património Cultural,“falta sobretudo oferecer e implementar os museus como mais um elemento das famílias”, além de ser necessário “convencer os professores a formarem parcerias” com estas instituições. Verifica-se que as saídas programadas para qualquer ano lectivo, deparam sempre com limitações e “outras prioridades que se sobrepõem, como uma ida às piscinas”, por exemplo.

Três portas para a educação
Partindo do princípio de que “para motivar é necessário saber gerir” os conhecimentos adquiridos, Sílvia Madeira considera existirem três passos – ou portas - essenciais para definir os factores de aprendizagem de qualquer processo, podendo este ser formal, não formal ou informal.
Uma primeira porta implicará sempre a criação de “um mapa que funcione como um plano educativo”. Nesse sentido, lembrou que “hoje em dia as autarquias possuem um plano educativo local, sob um grande chapéu que define objectivos em relação à educação” e à forma de gerir os recursos disponíveis. Lamentou, no entanto, que os “planos educativos mudem em função da população e da cor política” de cada autarquia.
A segunda porta prende-se com a animação e a escolha de estratégias e metodologias a adoptar. Apesar de a animação ser uma aprendizagem não formal, existem contudo “custos consoante o meio escolhido”. Afinal, “animar é tornar interessante”, mas para isso são necessários recursos financeiros que permitam que as iniciativas apresentadas atinjam os objectivos pretendidos.
Para esta professora, “animar é uma forma estratégica de educar” ainda que estas mesmas estratégias possam ser uma “lâmina de dois gumes, que cortam para os dois lados”, caso não sejam convenientemente implementadas e geridas.
Finalmente, a terceira porta diz respeito à aprendizagem, já que “a formação dá-nos o conhecimento”, admite Sílvia Madeira. Reconhece, no entanto, que “a péssima escolarização desenvolvida durante décadas” conduziu-nos a uma situação “com grandes custos económicos e sociais”, que nos mantém na cauda da União Europeia, em termos de desenvolvimento social e cultural.

Animar como forma de vida
Qualquer forma de animação terá de passar, inevitavelmente, pelos chamados agentes culturais ou educativos, cuja função “é transmitir todos os aspectos” envolvidos nas suas áreas de intervenção, pois “o público deve poder escolher, e para poder escolher deve estar informado”.
Acrescenta ainda que “um agente cultural sem pessoas para gastarem e consumirem a cultura não existe” pura e simplesmente. Além disso argumenta que os agentes envolvidos terão de ser cada vez “mais pró-activos” para conseguirem captar o público.
Apesar de uma aparente banalização da área da animação, Sílvia Madeira considera que “não se pode ser animador de qualquer a maneira, pois a animação exige uma mínima formação”. Nesse sentido recorda que “a animação é uma área ainda recente no país” dado que “a primeira geração de animadores foi formada através de cursos ministrados após o 25 de Abril de 1974”.
Acima de tudo, realçou, “os agentes educativos têm a obrigação de serem mediadores da população em geral, sobretudo porque não vivemos num país com uma apetência educativa e cultural muito grande”.

Cultura como bem comercial
Apesar da recente e gradual criação de uma rede nacional de auditórios e do surgimento de novos espaços museológicos, Sílvia Madeira alerta que “não basta dizer que existem espaços culturais”, pois estes locais “devem ser publicitados”, embora continuem a faltar “orçamentos para a comunicação e a divulgação”. Para além disso é igualmente necessário definir uma estratégia coerente, visto que “há formas de divulgar que não chegam a parte nenhuma”, assegura.
Definir um rumo que vá de encontro aos objectivos pretendidos implica a adopção de medidas acertadas, já que “não podemos defraudar o espaço para o qual estamos a trabalhar”, mas antes “tornar cada espólio o espaço de toda a gente”, frisa.
A mesma docente defendeu ainda que “a cultura deveria ser vendida enquanto um bem comercial”, embora reconheça que para algumas pessoas isso é “quase um sacrilégio”. Aliás, continua, “a ideia de que cultura é para toda a gente é algo recente”, tal como os esforços para “atrair público para as instituições”, pois anteriormente todas as acções tinham como fim último o de conservar o património existente. Algo impensável nos dias que correm, onde as instituições tentam por vários meios chamar os visitantes, de forma a justificar a sua própria existência enquanto espaço de conhecimento e partilha de saber histórico, ou simplesmente lúdico.

Guardiões de memórias
Para Luís Mata, as autarquias têm a “obrigação social” de estar ao “serviço das populações”. E para isso contribui o perfil de qualquer profissional de museologia, cuja “função enquanto guardião é contribuir para a construção da memória colectiva”.
No caso particular da História local, este técnico reconhece que ainda é longo o caminho a percorrer, até conseguir levar os munícipes a acreditar que esta não é uma ciência definitiva, estanque, isolada em compartimentes selados e imutáveis. Outros estudos podem apontar noutro sentido, mas muitas vezes nesse trajecto surgem obstáculos, quase incontornáveis, como a chamada “memória induzida”, segundo a qual somos compelidos a acreditar que aquilo que conhecemos possuiu sempre a mesma forma com que chegou até nós, sobretudo no que diz respeito ao caso do património histórico material ou imaterial. Não é fácil contrariar essa tendência, visto que as pessoas têm a propensão de acreditar naquilo que sempre lhes foi contado pelos seus antepassados como sendo a verdade histórica.
Para Luís Mata, essa resistência popular surge como um dos maiores entraves à construção da História local, dificultando o trabalho de investigadores que retiram do baú das memórias novos factos que permitem uma outra leitura e interpretação do conhecimento histórico. Dada esta oposição, cabe aos técnicos tentar encontrar a melhor forma de sensibilizar a população, sugerindo uma orientação diferente, face a conclusões que possam ter surgido, com base na interpretação de novos estudos efectuados por historiadores.
Para terminar, Sílvia Madeira deixou no ar a questão de se saber “porque é que as pessoas da cidade de Santarém não vêm ao museu ou à biblioteca?”, sobretudo quando se sabe que “a disponibilidade de tempo é uma questão afectiva”, já que se consegue sempre encontrar tempo para aquelas coisas que mais gostamos de fazer.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Os mouros tentaram reconquistar por duas vezes o planalto de Santarém após terem sido derrotados por D. Afonso Henriques

O castelo de Shantarîn foi conquistado de surpresa aos mouros, na madrugada de 15 de Março de 1147. O assalto, sob o comando do rei D. Afonso Henriques, inseria-se na estratégia de reconquista cristã rumo ao sul, encetada após a criação do condado portucalense, em 1095.
Já com a nova designação de Sancta Herene, a povoação medieval e o seu castelo foram alvo de uma nova investida muçulmana, em 1171. O ataque fracassou e as forças árabes foram derrotadas pelas tropas de Fernando II de Leão, genro de D. Afonso Henriques, que se encontrava em Santarém na altura. Dez anos depois, em 1181, teve lugar um segundo assalto muçulmano, mas os invasores foram novamente obrigados a recuar perante a contra-ofensiva levada a cabo pelas tropas do Infante D. Sancho, que se encontravam acantonadas na cidade.

Do pelourinho de Santarém resta apenas o pináculo

Pelourinhos, ou picotas, eram colunas de pedra que simbolizavam o poder municipal, servindo como instrumento de jurisdição feudal. Edificados nas principais praças de vilas e cidades, desde o século XII, serviam sobretudo para prender, castigar e expor os criminosos ou escravos acusados de cometerem delitos.
O Pelourinho de Santarém, de influência manuelina, encontrava-se originalmente na Praça do Município, hoje conhecida como Praça Visconde Serra do Pilar, um amplo espaço onde se realizava igualmente um mercado semanal.
Com as mudanças político-sociais ocorridas durante o século XIX em todo o país, o pelourinho de Santarém foi demolido por ser considerado um símbolo de tirania. Resta apenas um fragmento do pináculo, classificado em 1933, que se encontra em exposição no centro de interpretação Urbi Scallabis, no actual Jardim das portas de Sol.
Muitos destes pelourinhos possuíam no topo um pequeno compartimento, com grades de ferro, onde os criminosos eram expostos publicamente. No entanto, a situação mais comum era amarrar os presos a argolas de ferro incrustadas nas colunas dos pelourinhos, onde eram chicoteados ou mesmo mutilados, consoante a gravidade do crime cometido.
Por norma, os pelourinhos possuíam uma base sobre a qual assentava uma coluna cuja extremidade superior terminava num capitel. Grande parte dos pelourinhos portugueses são considerados obras de relevante valor artístico, sobretudo aqueles de estilo românico, gótico, renascentista ou manuelino. Alguns investigadores afirmam que os pelourinhos tiveram origem na columna moenia romana, uma peça que distinguia as cidades que os possuíam com alguns privilégios.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O subsolo de Santarém esconde três mil anos de História

Debaixo da actual cidade de Santarém e arrabaldes esconde-se um verdadeiro puzzle de antigas povoações e diferentes civilizações, que deixaram marcas por toda a região. Após anos de trabalhos arqueológicos, sabe-se actualmente que, desde a idade do bronze, Santarém foi alvo de inúmeras operações, tendo sido construída e reconstruída, derrubada e erguida consecutivamente.
As intervenções arqueológicas dos últimos anos, provam que a área urbana de Santarém foi ocupada desde o século X antes de Cristo. Sob o domínio romano e, posteriormente, muçulmano a cidade conheceu épocas de grande desenvolvimento económico e social, tendo sido um importante centro político e administrativo. Com uma localização estratégica do ponto de vista militar e uma posição privilegiada, atravessada por uma rede de caminhos terrestres e pelo rio Tejo, com um importante eixo de rotas fluviais e marítimas, Santarém conheceu um notável protagonismo em diferentes períodos da sua história.
No geral, as cidades são uma importante fonte de vestígios arqueológicos, permitindo conhecer como viveram e morreram os seus habitantes. Muitos centros urbanos actuais continuam a esconder as antigas povoações que lhes antecederam.
Enquanto se sabe que alguns arruamentos mantiveram o traçado original, outros perderam-se simplesmente para sempre. Poucos edifícios resistiriam incólumes ao passar dos anos e mesmo os antigos bairros que chegaram até aos nossos dias, perderam pelo caminho grande parte das suas características originais.
A ocupação do solo urbano ao longo dos séculos deixa, inevitavelmente, uma acumulação de diferentes estratos, que explicam o que terá ocorrido durante cada momento da ocupação anterior, o que faz do subsolo das cidades um autêntico “livro de registo” da história de todos aqueles que a habitaram anteriormente.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Santarém foi um importante porto nas rotas do comércio mundial durante o império romano

Móron seria uma das mais importantes cidades do médio Tejo no ano 138 antes de Cristo, quando a Lusitânia foi conquistada por tropas romanas. Em seu redor, encontravam-se vastos campos de lezíria, sujeitos a constantes inundações do rio Tejo, situação que ainda ocorre, contribuindo para que esta zona possua alguns dos solos mais férteis do País.
Já na altura da invasão romana abundavam vinhas e olivais e, face à necessidade de se distribuírem os produtos aqui cultivados, desenvolveu-se uma importante navegação fluvial e terrestre que permitiu escoar o vinho e o azeite, tal como muitos outros produtos aqui manufacturados.
Santarém foi desde cedo um importante centro económico. Para além da produção local, foi também um notável local de consumo de produtos importados, com uma florescente actividade comercial, comprovada pelos inúmeros achados arqueológicos aqui descobertos, provenientes de diversos cantos do mundo civilizado então conhecido.
Além da forte apetência fluvial, a região de Santarém foi igualmente um importante centro de passagem de rotas de comércio terrestres. Face ao crescimento destas vias de comunicação, registado ao longo da expansão do império romano, o comércio por caminhos terrestres sofreu igualmente um enorme desenvolvimento.
Quanto às mercadorias que aqui chegavam via marítima, provinham sobretudo de portos comerciais instalados ao longo na costa litoral mediterrânea. Já na época, alguns desses produtos eram considerados artigos de luxo, particularmente objectos manufacturados oriundos de paragens longínquas, como é o caso da Grécia ou do médio oriente, sobretudo da faixa sírio-palestiniana.
No entanto, os artigos importados eram essencialmente bens alimentares e objectos de cerâmica para uso doméstico. Sabe-se ainda que esses produtos provinham sobretudo de Itália, Gália, norte de África e do sul do actual território espanhol.
De referir ainda que uma das mais importantes vias militares, que ligava Lisboa, ou Olisipo, à capital do Império Romano, passava precisamente por Scallabis, a antiga civitas elevada a Praesidium Julium, após a chegada dos romanos.

Duas das mais 'apetitosas' telas da pintura portuguesa estão expostas em Santarém

A casa-museu Anselmo Bramcaamp Freire, em Santarém, possui três obras, datadas de 1676, concebidas por uma das primeiras mulheres portuguesas a ter a pintura como profissão: Josefa de Ayala Cabrera, também conhecida como Josefa de Óbidos. Encontram-se aqui uma obra de cariz religioso,‘Repouso na fuga para o Egipto’, bem como duas pinturas de naturezas mortas, uma com doces e rebuçados, outra com bolos e queijos, consideradas duas das mais 'apetitosas' telas da pintura portuguesa.
Josefa de Óbidos, a mais conhecida pintora do Barroco nacional, foi uma mulher emancipada para a época em que viveu. Nasceu em Sevilha em 1630 e morreu em Óbidos em 1684, solteira e sem filhos.
Após uma curta permanência num convento de Coimbra, foi nesta cidade que assinou as primeiras obras. Apesar de não ter seguido a vida monástica, grande parte da sua obra incidiu precisamente em temas religiosos e nas inevitáveis naturezas-mortas.
Ao adoptar a pintura como forma de vida, Josefa seguiu as pisadas do pai e aprendeu as técnicas que na altura dominavam o mundo das artes. Começou cedo a misturar as tintas e a reproduzir gravuras em desenho, mas nunca estudou anatomia humana, apesar da forte componente religiosa da sua obra, com inúmeras representações humanas.
Célebre no seu tempo, alcançou reconhecimento com a sua pintura e enriqueceu em vida, trabalhando para a casa real, entre muitas outras encomendas.
Trabalhava sobretudo em Óbidos, longe dos centros cosmopolitas, de outros artistas e da discussão de ideias sobre arte. No entanto, existem relatos de que no interior das muralhas da histórica vila se encontrava uma verdadeira "corte de aldeia" dada à discussão de “florescentes ideias, debates teóricos, e tertúlias literárias e artísticas”.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A história de Santarém começou muito antes da invenção da escrita

A região de Santarém atraiu desde muito cedo diferentes povos e civilizações, que aqui se estabeleceram desde tempos tão recuados como o primitivo neolítico. Desde os primórdios que a cidade se localiza num planalto estratégico, rodeado por solos férteis, com clima ameno e um rio de fácil navegação até à foz, situada a escassos 80 quilómetros. Alguns dos vestígios que comprovam a presença humana na região, datam dos séculos X e IX antes de Cristo, enquanto a escrita terá sido inventada pelos sumérios, um dos primeiros povos da antiga Mesopotâmia, por volta de quatro mil anos antes de Cristo.
No primeiro milénio antes de Cristo, Santarém chegou a ser considerada uma verdadeira cidade-estado, só passando a integrar o reino de Portugal em meados do século XII, após a tomada da cidade aos mouros pelas tropas comandadas por D. Afonso Henriques.
Para trás ficaram cinco milénios, em que esta zona acolheu diferentes povos e civilizações, que deixaram uma valiosa herança cultural por toda a região, mas a cidade teve igualmente um importante papel em alguns dos principais momentos da história de Portugal.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um antigo presidente da Câmara de Lisboa deixou a sua casa e todo o espólio à cidade de Santarém

No piso superior da Biblioteca Municipal de Santarém encontra-se a casa-museu Anselmo Braamcamp Freire, mas todo o edifício, com o respectivo espólio e jardim envolvente foram doados à cidade de Santarém por este historiador e político, nascido em 1849, em Lisboa, onde morreu 80 anos depois.
Pelo meio deixou uma vasta obra científica e anos de dedicação à causa pública. Após ter sido nomeado par do reino em 1887, virou costas à monarquia e aderiu ao Partido Republicano, em 1907. Fez parte da oposição na Câmara de Lisboa e chegou a presidente do Senado após a proclamação da República. Foi ainda presidente das Câmaras de Loures e de Lisboa, bem como deputado às Câmaras Constituintes. Candidatou-se ainda à Presidência do país, mas acabou por se retirar da corrida.